Seleta do Acervo - parte 1

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Micro entrevista com Ildásio Tavares

Fonte:  http://sopadepoesia.blogspot.com/2009/12/micro-entrevista-com-ildasio-tavares.html

2 poemas inéditos do poeta de Itapuã

GF – Na lírica moderna o poeta passou a cantar a própria poesia em oposição à realidade opressora do nosso tempo. Como você analisa tal fato?
IT
– Sempre foi assim. Contudo, em nossa época, o poeta sofre uma crise tão forte de identidade ante um sistema esmagador que, às vezes, cantar sabe a um grito no escuro.

GF – E o que, na sua ótica, justifica esse grito?
IT
– A total necessidade de expressão do indivíduo amordaçado pelo sistema.

GF – Você já afirmou que acha mais difícil criar um poema com versos livres que um poema dentro da métrica, por quê?
IT
– Por que a métrica te dá um parâmetro, uma referência fixa, um modelo estrutural para você preencher. Para o verso livre, você tem que criar este modelo estrutural. Enquanto para um você tem uma métrica geral pré-estabelecida para o outro você tem que criar uma métrica particular para cada poema. Muitos poetas quebram a cara aí porque pensam que o verso livre é anárquico ou prosaico. Não, você pode fazer arte do caos, mas não fazer caos da arte. O verso é livre, não caótico ou frouxo.

Dois poemas inéditos do autor
As anotações que o poeta faz abaixo de cada um dos seus poemas marcam a data em que o mesmo foi concebido, o local e a quantidade de vezes que sofreu interferência.

Canção da Menina na Avenida

De pé, nos tristes passeios,
noite fria na avenida,
espera mas não espera,
andando ao rastro da luz.

Há de vir, pelo silêncio,
uma oferenda do acaso,
deslindando a escuridão,
prêmio da perseverança.

Quieta, a menina fenece
na frieza da calçada.
Enquanto espera, apascenta
sua veloz esperança.




Canção de mar e vento
pra Kabá e pra Infraero

Ela caminha na praia
e nada traz sobre a pele
que um vestido transparente
sobre a nudez de escultura

O vento venta o vestido
que cola ao corpo e arredonda;
denunciando-lhe as formas,
seus abismos, suas ondas.

Quero-me amarrar no mastro
do meu saveiro, depressa,
antes que o canto comece
e não possa resistir.

Serenai, meus verdes mares
ao embalo do meu canto.
Petrificai-me, Ó meus olhos,
pelo que vejo e não vejo.

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